A Joana também

Uns bonecos tontos dum diário que ninguém compra mas a todos custa desenterrou a famigerada história dos anos do Joãozinho, para assustar jornalistas travessos ou ganhar silêncios.

Vindo donde vem, a anedota requentada traz o azedo dos tempos e, como tal, já ninguém a engole, até porque os seus narradores pertencem todos à brigada do reumático, incapaz de atemorizar quem quer que seja. Os decrépitos comensais à mesa do João, de mão tremente, ventre inchado e tique nervoso ao canto da boca recordam os tempos áureos, em que se impuseram à custa dos seus santinhos e senhas. Na hora do cinzento ocaso, recordam seus brinquedos flamejantes.

Vivem recordando, esses velhinhos, mas só brincam às suas saudades, porque sabem que muitos que estiveram a seu lado estão dispostos a desmascarar-lhes as faces engelhadas pela arrogância, pela prepotência, pela mentira acumulada e pelos montes de manha com que se disfarçaram. Muitos dos seus antigos aliados levantam agora os dedos acusadores, porque, afinal, também se tornaram vítimas e colheram as migalhas do chão de palácios que, sendo aparentemente faustosos, deixam ver a fragilidade do ferro oxidado em que assentam as suas colunas.

Os decrépitos comensais à mesa do João, de mão tremente, ventre inchado e tique nervoso ao canto da boca, querem ensinar às criancinhas como construíram seus palácios, mas, em sua senil pedagogia, não enxergam que das colunas azuis e amarelas só sobra o triste ferro oxidado.

Não há manha que lhes valha agora, até porque se isto se torna o da Joana, ela também poderá querer festejar o seu aniversário. Ou já chegámos à Madeira?

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