“É estranho que não haja nenhuma demissão”
Filipe Rebelo, presidente do PDR-Madeira, recorda que “nos últimos incêndios morreram três pessoas e houve centenas de desalojados”, defendendo que “tem de haver demissões, seja na Proteção Civil, seja a nível da Secretaria Regional que tutela a Proteção Civil, seja da parte da Presidência do Governo Regional”.
O presidente do Partido Democrático Republicano (PDR) na Madeira garante que não se meteu na política “à procura de ‘tachos’”, realçando que uma das principais prioridades do partido é “dar soluções” que resolvam os problemas do povo.
Filipe Rebelo considera, ainda, que o Governo Regional “deveria ter trabalhado em sintonia” com a Câmara Municipal do Funchal na questão dos incêndios”, apontando que “o que estava em causa era a questão da segurança e da ajuda aos cidadãos e não a questão das vaidades políticas”.
João Toledo
jtoledo@tribunadamadeira.pt
Tribuna da Madeira (T.M.) – No passado dia 31 de julho foi eleito presidente do PDR – Madeira. O que representa para si este novo desafio?
Filipe Rebelo (F.R.) – Trata-se de um desafio que vem de encontro à realização de objetivos que sempre defendi no movimento associativo, designadamente trabalhar em prol das pessoas. Toda a gente sabe que para estarmos na política temos de pertencer a determinado partido, sendo que considero que o projeto do PDR é bastante interessante pelo facto de ser “virgem” na Madeira. Sou o primeiro presidente do PDR na Madeira, sendo que este projeto político tem vindo a crescer de eleição para eleição na Região. Recordo que fomos impedidos pelo Tribunal Constitucional de concorrer às eleições regionais de 2015. Nas eleições legislativas de 2015 tivemos cerca de 2600 votos. Trata-se de um resultado muito bom para um partido que estava na esfera da política há cerca de um mês e meio, sendo que na altura concorri pelo PDR como candidato independente.
Penso, por isso, que o PDR constitui uma forma de lutar pelos direitos das pessoas. Às vezes as pessoas pensam que nós (políticos) andamos à procura de ‘tachos’. Filipe Rebelo não está à procura de ‘tachos’. Filipe Rebelo é técnico superior na câmara, recebe cerca de 1.300 euros/mês e tem a sua vida controlada dentro dos parâmetros da sociedade. O que Filipe Rebelo quer é ajudar a alguém que queira se inteirar na política e que queira mostrar o seu desagrado por serem sempre os mesmos que detêm o poder político… E esses mesmos ainda gozam do povo que o elegeu.
T.M. – E quais são as suas principais prioridades enquanto presidente do PDR – Madeira?
F.R. – É o partido concorrer nas próximas eleições autárquicas ao maior número de câmaras possível, para também criar raízes para as eleições regionais de 2019. Acho que faz todo o sentido o PDR eleger vários deputados municipais, vários deputados de freguesia. Não vamos concorrer a todas as autarquias, uma vez que a gente – como novo partido – não vai ter capacidade para tal, bem como porque não faz sentido porque há presidentes de câmaras que estão a fazer um bom trabalho.
O nosso principal objetivo é muito claro, nomeadamente, é dar soluções e não dar problemas. Problemas já existem muitos, por isso queremos dar soluções. Queremos também fazer a diferença, sendo aquele partido que esteja ali para ser o desequilibrador da balança. Reitero que “temos de ser uns Gentlemen’s na política”.
T.M. – A frase “na política estamos para servir o povo e não para se servir e servir os seus amigos” reflete o lema do PDR-Madeira?
F.R. – Vai ser o nosso lema, pelo menos enquanto eu estiver aqui como presidente. Às vezes pensamos que arranjar um trabalho para um amigo é um favor. Não é destes favores que eu falo… Isso é um dever. Quem está à frente das câmaras tem que ajudar a população, não só antes de ser eleito, mas também durante e depois. O papel de quem está à frente de uma câmara é trabalhar em prol do povo. Quando eu digo esta frase que “estamos para servir o povo e não para servir os amigos” refiro-me às ‘jogatanas’ políticas que existem, por exemplo, a nível dos ajustes diretos. Na Madeira continuamos a ver muitos compradios. Só mudamos os nomes, mas as empresas continuam a ser das mesmas pessoas. Por isso, temos que dizer basta! Acho que temos que alargar aqui os horizontes. E para alargar esses horizontes é necessário eliminar o maior número possível de desempregados fazendo com que o flagelo do desemprego se atenue na Região. A Madeira está a bater no fundo. Para além do problema do desemprego, temos conhecimento de trabalhadores que estão sujeitos a pressões das entidades patronais e de que há licenciados que estão a receber ordenados miseráveis. Infelizmente, ninguém tem feito nada para combater estas situações. A prioridade do PRD é denunciar esses ‘senhores’, os quais não podem estar constantemente a tratar mal das pessoas.
T.M. – O que é que distingue o PDR dos restantes partidos?
F.R. – É, sem dúvida, a humildade. A humildade nasce nas famílias, vem do berço. Por isso, através do PDR, quero implementar a humildade na política. Há muita gente que me diz: “ – Vais te f*d*r na política!”, mas eu não me importo porque ao menos tentei. Eu pelo menos posso dizer que tentei. Muitos queriam tentar mas não conseguiram. Eu sou líder, sou presidente de algo. Há muita gente que também gostava de o ser, mas está submissa aos outros.
T.M. – Mas não acha que já temos muitos partidos?
F.R.- Muitos partidos já estão a desaparecer. É óbvio de que há muitos partidos para as regionais, há muitos partidos para as autárquicas, mas as coligações vão acontecendo cada vez mais. Há muita gente que vai para outros partidos ou cria outros partidos porque é enxovalhada em certos partidos ditos da maioria. Ou seja, essas pessoas não têm uma oportunidade de mostrar o seu valor na política.
T.M. – E considera que há uma descrença das pessoas em relação à política?
F.R. – Não. Os partidos são o mal menor. A fama que se deu aos partidos é que faz com que as pessoas fiquem descrentes, nomeadamente devido às ‘jogatanas’ políticas. Repito, a política não pode ser um meio para se atingir interesses pessoais ou favorecer os amigos. É isso que descredibiliza a política. A política deve ser exercida a favor do povo e não em prol de interesses pessoais. Cavaco, enquanto primeiro-ministro e mais tarde enquanto presidente da República, foi um dos principais políticos que afundou Portugal. Porém, as máquinas políticas dos grandes partidos estão tão enraizadas na nossa sociedade – são uma espécie de seita, de maçonaria – que as pessoas se esquecem o que se passou no passado. Infelizmente, o povo português tem memória curta… Somos o povo do desenrasca!
É preciso passar a mensagem que os atuais políticos não sabem governar Portugal. Com a forma de fazer política que temos hoje em Portugal temos de continuar com o país fechado. O país já está fechado desde a primeira vez que a ‘troika’ entrou em Portugal. É necessário repensar rapidamente o que é que nós queremos para Portugal. Não é ter mais de uma centena de deputados na Assembleia da República que não mandam nada. Eles (deputados) falam, falam, falam, mas quem manda nisto tudo é o conselho de Governo e o presidente da República.
“Esse tabu do medo tem que ser quebrado”
T.M. – Falou há pouco que o PDR-Madeira irá concorrer à maioria das câmaras municipais. Já tem em vista os concelhos onde o partido irá concorrer e os respetivos candidatos?
F.R. – Nesta fase inicial, estamos a realizar contactos com as pessoas. Já temos alguns candidatos confirmados como, por exemplo, para as câmaras municipais do Porto Santo, de Câmara de Lobos, Funchal, Santa Cruz e Ribeira Brava. Calheta, Porto Moniz, Santana e Machico são quatro concelhos que estamos a ponderar concorrer. Contudo, sentimos que há um medo muito grande da população em integrar as listas do nosso partido. 16% da população está ligada ao governo e cerca de 15% está ligada às autarquias, o que gera um medo das pessoas perderem o seu posto de trabalho. Na atual conjuntura, onde existe uma grande taxa de desemprego, as pessoas têm muito medo em dar a cara por uma coisa que acreditam. Esse tabu do medo tem que ser quebrado, sendo que temos que começar a respeitar a opinião do cidadão comum.
T.M.- O PDR também está recetivo a fazer coligações. Já pensou em algum concelho onde essa ideia se aplique?
F.R. – O Funchal por exemplo. É uma câmara onde a gente poderá vir a fazer uma coligação.
T.M. – Quer dizer que Paulo Cafôfo tem feito um bom trabalho à frente da Câmara Municipal do Funchal?
F.R. – Penso que sim. Acho que um líder tem de ter uma segunda oportunidade se der provas de um bom trabalho durante o primeiro mandato. Se a vereação não está a acompanhar o presidente isto já é outro assunto. A questão dos incêndios é, para mim, um ‘floreado’. Infelizmente, às vezes as pessoas vão muito nesse ‘floreado’, quer da parte das câmaras, quer da parte do Governo Regional. O que temos que fazer é uma retrospetiva dos quatro anos de mandato. Ou seja, se o presidente governou bem, se deu oportunidade aos funcionários de fazerem a sua progressão na carreira isso é o que conta para mim, não é o ‘show off’. O ‘show off’ vale zero. As pessoas têm que ser humildes. Não é pegar nas suas tutelas e dizer que fizeram muitas coisas, pois elas foram eleitas precisamente para servir o povo. O erro de ‘casting’ de muitos governantes é basearem-se no passado, dizendo, por exemplo, que as dívidas antigas das autarquias condicionaram a sua atuação. O que o PDR quer fazer é ir de encontro às pessoas que estão a dar credibilidade aos seus municípios. Não vamos em cantigas e em ‘show off’ como muitos fazem hoje em dia.
“A questão dos incêndios foi muito mal direcionada”
T.M. – Como classifica a atuação do Governo Regional e da Câmara Municipal do Funchal em relação aos últimos incêndios?
F.R. – Foi muito grave e muito mau o facto das entidades não se juntarem logo nos primeiros ‘briefings’ de análise aos incêndios. A questão dos incêndios foi muito mal direcionada. Não se pode ‘atirar areia para os olhos’ dizendo que nunca houve condições climatéricas como naqueles dias em que deflagraram os incêndios. Isto é mentira, pois nós já fomos assolados por outros incêndios tanto ou mais graves como estes últimos.
Considero também que nos últimos incêndios houve muito ‘show off’, pois vimos as televisões a transmitirem uma coisa e ‘briefings’ diferentes em horas quase iguais. Por isso, penso que nesta situação o governo deveria ter trabalhado em sintonia com a câmara, ou seja, as cores políticas não deveriam ter sido um impeditivo para nada. O que estava em causa era a questão da segurança e da ajuda aos cidadãos e não a questão das vaidades políticas.
Neste momento, toda a gente está a culpar a tutela da Proteção Civil, mas quem é que tem a tutela da Proteção Civil? É a secretária regional da Inclusão e Assuntos Sociais, a Dr.ª Rubina Leal. Alguma coisa falhou a nível da prevenção. Isto não é só dizer que se tem a tutela e não fazer nada. Temos de começar a pensar em dar as tutelas a quem sabe. Se eu sou bom numa área não sou bom noutra. Isto está mais do que provado.
Depois o facto do presidente do Governo Regional ter vindo dizer a público que “não era técnico” foi um erro de ‘casting’. O cronograma que está implementado no Diário da República ou no Jornal Oficial (JORAM) estipula que o presidente do Governo Regional substitui o presidente da Proteção Civil quando tal seja necessário.
T.M. – E está admirado de ainda não ter havido demissões?
F.R. – Tem que haver demissões. Não se pode ir agora para o terreno dizer que se vai construir fogos porque é o trabalho das entidades. Reitero que tem de haver demissões, seja na Proteção Civil, seja a nível da Secretaria Regional que tutela a Proteção Civil, seja da parte da Presidência do Governo Regional. Quanto é que vale uma vida humana? Nos últimos incêndios morreram três pessoas e houve centenas de desalojados é estranho que não haja nenhuma demissão. Ninguém se demite, isto é grave.
T.M. – Também partilha da opinião de que o pedido de ajuda ao exterior foi tardio?
F.R. – Foi muito tardio. Por exemplo, o PDR falou recentemente com três pilotos, com larga experiência na área da aeronáutica, que garantem que é possível ter meios aéreos para o combate aos incêndios. É treta que o uso de meios aéreos cause o deslizamento de terras. É óbvio que numa área como a Madeira a gente não vai levar 2 toneladas de água no helicóptero. Vamos sim levar meia tonelada de água. É melhor destruir uma casa do que perder meia centena de casas. A orografia da Madeira não pode ser desculpa para a falta de meios aéreos no combate aos incêndios.
Ainda recentemente tivemos um bom exemplo daquilo que afirmo. O presidente da República quando veio à Madeira não pôde aterrar no aeroporto madeirense devido aos ventos fortes, tendo o avião sido divergido para o Porto Santo. Quem é que transportou depois o presidente do Porto Santo para a ilha da Madeira? Foi o helicóptero Merlin. Isso só prova que um helicóptero pode aterrar na ilha da Madeira com ventos fortes. Os helicópteros poderiam, assim, minimizar os incêndios deixando caminho aberto para os bombeiros intervirem.
Deixem-se mas é de ‘show off’ e de atribuir louvores aos bombeiros. Aumentem mas é os seus ordenados e deem um subsídio de risco a estes homens. Esses homens – bombeiros, PSP, GNR, Guardas Florestais – querem é um ordenado digno e adequado ao risco da sua profissão. Deixem-se lá das tretas de atribuir louvores e deem o devido valor a esses homens.
T.M. – E como classifica o mandato do governo liderado por Miguel Albuquerque?
F.R. – Embora este mandato tenha ainda pouco mais de um ano, fica muito aquém do desejado. O presidente prometeu muita coisa, tal como o avião cargueiro e o ferry. Porém, todos sabemos que aquilo que ele prometeu não era viável com o Orçamento Regional, pois estava também dependente do Orçamento do Estado. Este governo prometeu muito e, inclusive, anda a fazer muito ‘show off’ com o social. Aquilo que as associações faziam antes a Secretaria Regional da Inclusão e Assuntos Sociais está a fazer agora. A parte social nunca foi trabalhada pelo antigo governo liderado por Alberto João Jardim.
T.M. – Para finalizar quer acrescentar alguma coisa?
F.R. – Aproveito esta oportunidade para dizer àquelas pessoas que querem vir para a política de forma séria que podem procurar o PDR. Já temos página no Facebook e, dentro em breve, iremos ter uma sede onde poderemos receber as pessoas que querem abraçar este projeto. Não nos preocupamos com o status social das pessoas, queremos é que elas sejam políticas por si próprias.
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