“Há um grito amordaçado dentro de cada polícia”

As notícias recentemente trazidas a público, que dão conta da promoção de muitos oficiais de topo da PSP, serviram para agudizar a revolta junto da classe.

O presidente da delegação regional do Sindicato Independente dos Agentes de Polícia (SIAP) alerta que a PSP está a passar por “um mau momento”, o qual se deve a causas exógenas e a factores internos. “Atendendo às causas externas à instituição, a PSP vê-se a braços com a missão de manter a ordem num clima social volátil, que a todo o momento poderá explodir. Mais grave, ainda, se a ordem pública se alterar, tememos que os próprios polícias se sublevem, uma vez que se sentem traídos pela tutela. Será o caos”, advertiu.

No que concerne às questões internas que estão directamente relacionadas com a PSP, Jorge Serrão denunciou que junto da maioria dos agentes “paira a vergonha e o descontentamento”, em virtude da “atitude gananciosa” da classe dirigente.

Há um grito amordaçado dentro de cada polícia. As notícias recentemente trazidas a público, que dão conta da promoção (e que rica promoção!) de muitos oficiais de topo, serviram para agudizar a revolta. Foi um péssimo exemplo”, apontou o dirigente do SIAP.

Desta forma, Jorge Serrão alerta que é “urgente” regularizar as questões de ajuste remuneratório a todos os polícias, sob pena de aumentar o descontentamento. “Há um barril de pólvora prestes a explodir. Importa apagar o rastilho, antes que seja demasiado tarde”, avisou.

O presidente do SIAP transmitiu, também, que os polícias sentem-se desprotegidos. “Habituados a receber e obedecer a ordens, começam a fazê-lo reticentemente, dada a perda de confiança em quem os dirige. Casos de atitudes menos íntegras por parte de superiores, há muito denunciadas por este sindicato, passam impunemente. Há uma clara diferença de tratamento na instituição, sendo que os oficiais são privilegiados, quando as outras classes são exploradas e desrespeitadas”, lamentou.

Não há melhor método pedagógico que a coima”

Questionado pelo CidadeNet se a PSP anda a fazer caça às multas, Jorge Serrão respondeu que esta ideia não passa de um mito. “O que acontece é que ninguém gosta de ser autuado. Porém, algumas pessoas, quando o são, logo bradam que foram vítimas do zelo do agente e dizem-se vítimas de injustiça”, frisou.

Na opinião daquele dirigente sindical, o procedimento da polícia, em termos de prevenção e fiscalização rodoviária, até é muito brando e complacente. “Talvez seja por isso que ainda se registam elevados níveis de sinistros, alguns fatais. O estacionamento abusivo é prática corrente e generalizada. Muita gente ainda teima em usar o telemóvel enquanto conduz. Cremos que a PSP até tem sido tolerante em demasia”, defendeu.

Essa tolerância excessiva leva os condutores a abusarem e a arriscarem cada vez mais. É tanto o desrespeito por parte de muitos automobilistas, quanto a falta de atitudes cívicas. Há quem reclame que a fiscalização policial deveria ser menos punitiva e mais pedagógica. Todavia, os resultados demonstram que essa postura é pouco producente. Conclui-se, portanto, que não há melhor método pedagógico que a coima”, complementou.

Será a polícia que vai proteger o governo e as suas políticas”

Devido à actual conjuntura económica, tem existido fortes restrições orçamentais em diversos sectores da administração pública. No caso das forças policiais, tuteladas pelo Ministério da Administração Interna, os referidos cortes não se fazem sentir com tanta intensidade.

O governo antevê a possibilidade de surgirem focos de tensão social e, em consequência, sérias hipóteses de se consumarem desfechos violentos, decorrentes das medidas económicas que vêm sendo implementadas. Deste modo, importa assegurar todas as condições às forças de segurança, porque estas estarão na linha da frente quando, e se, a violência eclodir. Por outras palavras, será a polícia que vai proteger o governo e as suas políticas”, salientou o responsável pela delegação regional do SIAP.

Contudo, Jorge Serrão refere que mesmo sem grandes restrições de verbas, a operacionalidade vai notando sintomas de “escassez financeira” devido à “má gestão” que tem sido praticada ao longo dos tempos.

Ainda subsistem práticas arcaicas como, por exemplo, a distribuição, em regime de exclusividade, de viaturas descaracterizadas a oficiais. Quando essas viaturas deviam ser, efectivamente, destinadas ao serviço, servem interesses pessoais. Outro mau exemplo de desperdício abusivo é, entre muitos, a utilização de uma viatura policial, quase todos os dias úteis, para a deslocação de polícias da esquadra do aeroporto que preferem vir almoçar ao Funchal. Trata-se, na nossa opinião, de um gasto supérfluo, e tão evidente, mas que persiste há algum tempo”, denunciou Jorge Serrão.

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