Nova exposição temporária no Museu Etnográfico

É já a partir de hoje, dia 14 de fevereiro, que ficará patente ao público no átrio do Museu Etnográfico da Madeira (MEM), a exposição temporária “Artefactos em cana vieira: gaiolas e alçapões”. A mostra traz a público a coleção de gaiolas e armadilhas, em cana vieira, que fazem parte do acervo do MEM. Pretende-se divulgar o “saber-fazer” associado a esta atividade tradicional, testemunhos preciosos do nosso património imaterial, recolhidos em trabalho de campo, para inventariação e contextualização das peças do acervo. Em última instância pretende-se valorizar e divulgar estas atividades artesanais tradicionais, que tanto nos identificam, mas que correm o risco de extinção, apelando à sua preservação.

A cana vieira, cana de roca ou cana-do-reino (Arund Donax), planta disseminada por todo o arquipélago, desenvolve-se tanto nos terrenos à beira mar, como na montanha. É facilmente reconhecível pelos tufos que formam os seus caules, longos e eretos, de uma cor verde clara, inconfundível. O ciclo de crescimento do colmo é de um ano. Atinge a sua maior altura em Dezembro, nos terrenos alagados, mas ali é menos resistente. Em áreas de sequeiro desenvolve-se menos, mas é mais forte. A época de corte é antes da Primavera, operação designada popularmente por “ensocar” as canas.

Esta matéria-prima era utilizada antigamente na produção de inúmeros artefactos, nomeadamente cestaria, brinquedos, instrumentos musicais e outros utensílios utilitários, como é o caso das tradicionais gaiolas e armadilhas para pássaros (alçapões ou gangorras) patentes nesta exposição.

A produção dos artefactos apresentados nesta exposição possui uma longa tradição na nossa Região. Antigamente, depois de confecionadas pelos artífices, as gaiolas eram transportadas com pássaros até às feiras e mercados onde eram comercializadas. Com a evolução tecnológica perderam grande parte do seu valor utilitário, o que quase levou à extinção desta atividade artesanal. Atualmente é conhecido apenas um artesão que as confeciona e comercializa, no concelho da Ribeira Brava e são procuradas essencialmente para fins decorativos.

A coleção de gaiolas e alçapões mais antigos pertencente ao acervo do Museu Etnográfico da Madeira, que se encontra em reserva é, na sua maior parte, da autoria de Agostinho Vasconcelos, um profundo conhecedor do artesanato tradicional madeirense e que tem colaborado com o museu em vários projetos pedagógicos e culturais e de Manuel Ferreira Júnior, um artífice natural do concelho das Ribeira Brava, já falecido, que nos anos 90 do século passado nos transmitiu o seu “saber-fazer” e o qual pretendemos homenagear.

Dessa coleção em reserva, fazem ainda parte outros artefactos, da autoria de diferentes artesãos, recolhidos em trabalho de campo ao longo dos últimos vinte anos.

Estão ainda patentes ao público o alçapão de Afra Nunes residente no Sítio da Ribeira das Galinhas, freguesia do Paúl do Mar, concelho da Calheta, que durante longos anos dedicou-se a esta arte e a gaiola de Avelino de Abreu Nunes, artesão que atualmente exerce o ofício no Sítio da Pedra Mole, freguesia do Campanário, concelho da Ribeira Brava.

Estes dois artesãos permitiram que o Museu efetuasse, este ano, o levantamento completo da cadeia operatória da confeção de gaiolas e alçapões, que dão nome a esta exposição, permitindo completar o registo destes testemunhos do património imaterial da Região.

Recorde-se ainda que a mostra está inserida no projeto do MEM “Acesso às coleções em reserva” criado com o objetivo de proporcionar uma maior rotatividade das coleções que não se encontram expostas ao público de uma forma permanente, e apresentando-as, trimestral ou semestralmente, como uma nova temática, no átrio da instituição.


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