O mundo das hipérboles

Os jornais costumam projetar-se com títulos chocantes, cuja procura diária justificará uma boa jorna aos colaboradores capazes da permanente e engenhosa criação.

Alguns periódicos especializaram-se em atrair a atenção dos seus leitores através de notícias que reflitam crimes e violência, outros procuram ser chamativos com escândalos comportamentais que envolvam figuras públicas, sejam do mundo do espetáculo, do desporto ou da política. Se esses escândalos tiverem uma pontinha de natureza sexual, garantem indubitavelmente o êxito do noticiário.

Jornais e canais televisivos eticamente mais comedidos em relação aos títulos impactantes têm encontrado na crise económica do nosso país e da nossa região os motivos preferidos para os títulos chocantes: pobreza, miséria e desgraça, se preferível com narrativas, imagens e rostos exemplares, duma realidade tão próxima que emocione os espíritos que geralmente se exaltam com os dramas vizinhos.

Se esta estratégia publicitária faz sentido em empresas cujo lucro só é possível com o aumento do número de leitores ou espetadores, não nos parece ser adequada ao discurso de políticos, já que a adjetivação hiperbólica ou a comparação excessiva podem afastar-se tanto da realidade que descredibilizam os utilizadores.

Expressões como “Jardim transforma a Madeira na casa dos horrores”, “ as finanças da Madeira é (sic) uma bomba relógio e as empresas públicas são o rastilho”, “o Governo Regional mostra uma incapacidade monstruosa de nada fazer”, “ a Saúde da Madeira é um calhambeque com o motor gripado” ou “fazer da liderança governativa uma actividade de tasqueiro que esbraceja por tudo e por nada” foram tão coloridas a vermelho e negro que agora o líder de um grupo parlamentar só pode satisfazer o seu gosto em criar figuras de estilo e alimentar os títulos noticiosos com excessos de tal monta que chocam pelo grotesco, como comparar orçamentos a cenas de sexualidade ou comparar as sanções da Madeira à da Síria.

Com esta linguagem impressionista e com estes recursos estilísticos, o líder do grupo parlamentar arrisca-se a levar o seu partido para uma dimensão fantasiosa, nada condizente com os tempos que correm.

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