Bem-te-quero e malmequeres‏

Falava recentemente com alguém que considero uma das pessoas mais sensatas, esclarecidas e ponderadas desta ilha no que à realidade cultural diz respeito, mais concretamente à realidade literária, e que me dizia que “agora somos todos muito bons”, os escritores. Mesmo quando alguns nada valem e se arvoram como donos da sapiência, da excelência de estilo, da razão argumentativa, ou outra.

E, como não poderia deixar de ser, apenas podia concordar com o meu interlocutor. É um facto que nesta terra jamais haverá um crítico literário. Em primeiro lugar porque não existe ninguém qualificado para o fazer (ou se gosta, ou não se gosta, ou se encolhem os ombros, ou se fazem favores aos amigos do lobby). Por outro lado se alguém, mesmo que insuspeito, enveredasse por essa via seria logo cilindrado em arrufos de ódio e desamor, em insultos baixos e torpes e, quiça, fisicamente violentado numa rua esconsa na zona velha.

E dizia-me ainda essa pessoa que sempre considerei, e que em cada tempo que passa ainda mais considero, que a verdadeira essência das reuniões supostamente literárias, seja em jantares ou tertúlias mal amanhadas, desapareceu por completo. Misturam-se declamações poéticas com vozes esganiçadas que acompanham legendas de karaoke, fazem-se apresentações de livros que nada mais são do que desfiles de cantadeiras ou instrumentistas (mea culpa), deturpam-se momentos que deveriam ser elevados, provocar o debate de ideias, atiçar a inter acção entre autor e ouvintes.

Pois é, meu amigo, é a triste realidade a que chegámos. Uma realidade banalizada, mediocrizada e vilipendiada pela necessidade de um protagonismo barato e de um exibicionismo gratuito.

Apesar de tudo, e das relações entre quem escreve terem melhorado e evoluído bastante nos anos mais recentes, a verdade é que ainda nos falta trilhar muito caminho. Ainda nos falta crescer imenso enquanto escritores e pessoas. Mas nunca é tarde para começarmos a tentar, certo?

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