Bem-te-quero e malmequeres‏

E se eu morrer amanhã?

Morrerei (in)feliz!

Diz o povo, mais ou menos por outras palavras, que “posso morrer amanhã mas morro de barriga cheia”! Adágio cada vez mais em desuso já que a barriga outrora cheia (em tempos de vacas que foram gordas e leiteiras) está cada vez mais minguada na sua dimensão, à semelhança das vacas que, sem sessões de step ou caminhadas ao final do dia, também se viram emagrecidas.

Morrei in-feliz porque continuo a pensar que até aos 100 anos, se não mais, tenho muito espaço de manobra qualitativa e quantitativa para poder continuar a produzir. A produzir palavras e ideias, a produzir sonhos e paixões, a produzir futuros e esperanças, a produzir amor de pai e amor de homem. Vejam-se, apenas para mencionar alguns mais famosos, os exemplos de Manoel de Oliveira e de Oscar Niemeyer.

Está certo que o primeiro faz filmes lentos (por vezes demasiado leeeeeentos…) e por isso não se deverá cansar por aí além e, como tal, defende-se de agitações e contrariedades a desgosto.

E o segundo, a verdade também, é que desenha (ou manda desenhar). Não anda lá em cima empoleirado em andaimes ou a manobrar gruas, pelo que a sua actividade (altamente criativa e fabulosa) não será demasiado exaustiva ou perturbadora de anos que se vão acumulando no seu B.I.

Já de mim não sei. Esta vida de viajante e agente de viagens e escritor e actor e apresentador e faz-um-pouco-de-tudo com paixão-amor-tesão, é cansativa como tudo. Não que desgoste. Porque até gosto e dá gosto ser assim! Certo, isto hoje é um exercício de narcisismo…ou a nostalgia dos 50 que há pouco dealbei.

Parafraseando o povo, se eu morrer amanhã morro feliz (exceptuando o deixar prematuramente os que me amam e a quem eu retribuo com amor).

Levarei a barriga cheia de viagens mundo fora. Levarei a barriga cheia de sonhos concretizados. Levarei a barriga cheia de palavras e de livros que por mim passaram. Dos outros e dos meus. Levarei a barriga cheia de risos e sorrisos e gargalhadas. Levarei a barriga cheia de luares e de sóis e de mares e de desertos e de céus e de verdes e de azuis. Levarei a barriga cheia de pretéritos que me enriqueceram e de presentem que me enchem a alma. Levarei a barriga cheia de amizades, apenas pontualmente ulcerada por alguns ódios e traições que também me enriqueceram.

Mas a verdade, a insofismável, é que se eu morrer amanhã morrerei empanturrado de amor e de paixão. Porque esse foi o meu maior alimento ao longo da vida. Como o sonho, que sempre me comandou.

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