Portugal realiza 900 transplantes de córneas anualmente mas ainda não consegue ser autossuficiente

Portugal realiza cerca de 900 transplantes de córneas anualmente mas precisa de aumentar a sua capacidade de colheita e conservação destes tecidos de forma a conseguir ser autossuficiente. Este é um dos temas em debate na XXX Reunião Anual da Associação Europeia de Bancos de Olhos (EEBA), que este ano decorrerá em Coimbra, de 25 a 27 de janeiro. Neste momento existem em Portugal cinco Bancos de Olhos distribuídos por diferentes hospitais e o IPST (Instituto Português do Sangue e Transplantação) facilita a coordenação entre eles e a colaboração com outros Bancos de Olhos europeus.

Mas o que é afinal um Banco de Olhos? Maria João Quadrado, oftalmologista, presidente do Congresso e responsável pelo Banco de Olhos do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra explica que “em Portugal existem cinco Bancos de Olhos que funcionam exclusivamente com córneas refrigeradas. O estado de arte nesta matéria está orientado para a utilização de córneas de cultura. Esta cultura só pode efetuada em salas altamente especializadas e com características muito restritas”.

A presidente desta reunião refere “Portugal recebe córneas para transplantação de países da União Europeia. Creio, no entanto, que Portugal tem a capacidade de ser autossuficiente, de forma a suprir as necessidades de transplantes de córnea a nível nacional, e eventualmente ceder tecidos para o exterior. Para atingirmos este objetivo é necessário aumentar o número de colheitas e a criação de uma sala de cultura de córneas. Assim vamos aumentar o tempo de conservação e a obtenção de lentículos corneanos para transplante lamelar. Este tipo de transplante da córnea é a técnica mais avançada e só assim a poderemos expandir em Portugal” defende a especialista.

Neste congresso serão debatidas as especificidades e desafios deste tipo de banco de tecidos. Maria João Quadrado afirma que “as imposições legais são imensas. Os critérios de qualidade são muito apertados em termos dos recursos humanos, instalações e equipamento. Isto requer instalações especializadas e um grande empenho de todos os profissionais. Um dos maiores desafios prende-se com a sensibilização para a dádiva. Perdemos muitos dadores. A colheita de córneas pode ser efetuada em dadores até às 6 horas pós morte. O pool de potenciais dadores é grande pelo que o número de colheita de tecidos ainda pode ser aumentado em Portugal”.

Os Bancos de Olhos existem para tratar todas as doenças que levam à cegueira por afetarem a transparência da córnea, como cicatrizes pós traumatismo, doenças que levam à perda de células da córnea como distrofias, o herpes ocular e o queratocone, entre outras.

A XXX reunião anual da EEBA trará a Coimbra cerca de 250 especialistas em Bancos de Olhos provenientes de 25 países, desde os Estados Unidos à Austrália passando pela Nova Zelândia, Sri-Lanka e vários países europeus.


PUB