“As decisões que tomo não são guiadas por caprichos pessoais”
O apelo do presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz, Filipe Sousa, para o encerramento das escolas em carta enviada ao presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque, motivou ‘troca de palavras’ face à resposta recebida.
A intenção de Filipe Sousa foi fazer eco de preocupações manifestadas pelos cidadãos de Santa Cruz relativamente à pandemia e à continuidade de aulas presenciais.
“Volto ao seu contacto para, mais uma vez, apelar ao encerramento das escolas que ainda continuam a funcionar. Este meu pedido tem por base não apenas os números gerais da pandemia da COVID-19, que continuam a estar bastante altos, mas também o crescente número de casos em contexto escolar”, escreve o autarca. “Além disso, ao apelar a V. Exa. nesta matéria sou o porta-voz de muitos pais que me têm contactado, fazendo precisamente o pedido de encerramento das escolas, à semelhança do que já aconteceu no território continental. Estes pais revelam ansiedade e preocupação com a circunstância de terem surgido casos nas turmas dos filhos e a opção estar a ser não pelo isolamento profilático das turmas, mas sim pela continuidade das aulas presenciais”, diz ainda. O autarca sublinha que os munícipes têm entrado em contacto com a Câmara, queixando-se “da circunstância da informação por parte das escolas ser deficitária e de dificuldades para conseguir contactar as linhas de apoio”.
Nesse sentido, Filipe Sousa entende que “o encerramento das escolas seria assim uma medida que traria alguma paz aos pais, bem como iria contribuir para achatar a curva de contágios, que está bastante alta na Região e no concelho de Santa Cruz”.
“Não é atirando atoardas
que se tranquiliza uma comunidade”
A resposta ao pedido de encerramento das escolas no concelho de Santa Cruz veio por parte do secretário regional da Educação: «Uma vez mais, o Sr. Presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz, seguindo orientações nacionais ao invés de procurar perceber a realidade do seu município, vem propor o encerramento das escolas do seu concelho.
A realidade da região é diferente da do país e do concelho de Santa cruz também. Assim esclarecemos o Sr. Presidente e a comunidade em geral do atual contexto escolar do seu concelho.
No presente ano letivo, 4472 alunos frequentam os 17 estabelecimentos de ensino no concelho de Santa Cruz. Deste total, 2897 frequentam Creches, Pré-escolar, 1º e 2º Ciclos, ou seja, 64,7% estão com atividades presenciais. O restante está em ensino à distância (1575). Nesta data, testaram positivo à COVID-19 nove alunos correspondendo a 0,3 % do total e 119 alunos encontram-se em isolamento correspondendo a 4,1%. Esta é a realidade das escolas no concelho de Santa Cruz.
Ao propor o encerramento das escolas, o Sr. Presidente da Câmara demonstra o seu total desconhecimento em relação ao impacto que teria nas famílias, nos alunos, professores e funcionários. O contexto em que vivemos exige responsabilidade, ponderação e, acima de tudo, às entidades com obrigações na gestão pública apelar a que toda a comunidade seja responsável, adote comportamentos assertivos e cumpra as orientações das autoridades de saúde para bem da população em geral. Só desta forma conseguiremos combater esta pandemia e não é atirando atoardas que se tranquiliza uma comunidade.
Voltamos a sublinhar que as medidas adotadas por toda a comunidade escolar transformam as escolas em locais seguros sendo também função da escola educar para atitudes comportamentais que respondam aos desafios da sociedade, neste caso particular, as nossas crianças são elas próprias difusoras de comportamentos assertivos para o combate a esta pandemia.
De salientar que, no dia de hoje, 22 de janeiro, regressou 1 turma às atividades presenciais».
“Decidi dar voz à aflição de muitos pais”
A resposta não terá sido do agrado de Filipe Sousa que, em comunicado, comenta:
«COMUNICADO – RESPOSTA AO SR. SECRETÁRIO DA EDUCAÇÃO
Em resposta a uma carta que não lhe foi endereçada, pedindo ao senhor presidente do Governo o encerramento das escolas, o senhor secretário da Educação acusa-me de não conhecer o meu concelho e as suas escolas. Informo, por isso, o senhor secretário da Educação que, ao contrário dele, as decisões que tomo não são guiadas por caprichos pessoais e pela natural sobranceria que o Dr. Jorge Carvalho costuma cultivar. Se escrevi ao Dr. Miguel Albuquerque foi precisamente porque conheço o meu concelho e porque decidi dar voz à aflição de muitos pais que me têm contactado, mas que não conseguem contactar o senhor secretário da Educação. Ou seja, o encerramento das escolas não é uma ideia minha, sustentada no desconhecimento, mas uma preocupação de dar voz aos que não conseguem chegar a quem decide.
Depois o senhor secretário vem com números nos quais já ninguém acredita, e esquece-se que por detrás dos números estão pessoas, que estão assustadas e que gostariam de se sentir mais seguras e verem os seus filhos em segurança.
Fazer eco deste sentir é o meu trabalho como autarca e não desistirei dele perante a facilidade que o senhor secretário da Educação tem de criar realidades alternativas. Filipe Sousa».
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